Em abril deste ano, eu estava na casa do Lamon e da Karol, bebemos cerveja, vinho, ficamos bêbados, e quando eles disseram que estavam com ingresso comprado para o Rock in Rio, eu decidi que também iria e comprei o ingresso ali mesmo! (com o cartão do Gi) E então foi criado o grupo Roquenrio no zap, comigo, Lamon, Karol, Gi, Marcela, e Rafão.
A diferença era que além dos ingressos, eles já tinham a passagem de avião comprada e o hotel reservado. E eu decidi que iria de moto pela Rio-Santos, mas ainda não tinha lugar pra ficar.
No meio deste tempo, a sorte sorriu para mim, algo que magicamente sempre acontece quando o Lucas está junto. E na comemoração do aniversário do Lucas e do Leo, eu comentei sobre esta viagem e a irmã e o cunhado do Lucas disseram "A gente ta morando no Rio, você pode ficar lá em casa!" e assim a estadia no Rio de Janeiro foi resolvida.
O show seria na sexta-feira dia 2/9, então minha ideia era sair de casa na quarta, dia 31/8, dormir em Paraty, chegar no Rio dia 1/9, ver o show dia 2, e voltar pela Dutra numa tacada só dia 3.
MAS
A vida á uma caixinha de surpresas. E duas coisas me fizeram mudar o planejamento da viagem:
1- Quando fui reservar o hostel de Paraty, vi que parecia ser muito legal e seria um desperdício passar uma noite só
2- Marquei um date com a Botinha, uma web-amiga de Belo Horizonte
E uma coisa quase me fez desistir de tudo. Poucos dias antes da viagem eu fui dormir e me bateu uma bad, um medo da viagem tipo "Caralho que rolê loko, pq eu fui decidir isso? Será que ainda dá pra devolver o ingresso ou vender? Essas estrada do caralho cheia de caminhão, e se eu pegar com chuva, frio, à noite, etc..." No dia seguinte contei isso pro Félix e ele disse "Cara, é bom que um lado seu esteja com esse medo, porque realmente é um puta desafio, mas que vc se propôs a fazer, e vai encarar um quilômetro de cada vez."
Primeiro dia - 30/08: Casa - Paraty
Saí de casa umas 9h da manhã, e às 9h45 eu estava começando oficialmente a viagem. No posto de gasolina da Imigrantes eu zerei o hodômetro, enchi o tanque e o galãozinho extra, e já tive meu primeiro perrengue literalmente com 0000 km de viagem!! Eu reparei que um dos parafusos do afastador do alforje tinha caído, e ele tava todo mambembe, então fui numa lojinha ali no posto mesmo e comprei aqueles lacres de plástico (enforca-gato, braçadeira hellerman, trem de coisar) e dei um jeito provisório que eu pretendia resolver chegando em Paraty.
Mas alguns poucos quilômetros para a frente, a moto deu uma engasgada e parou. Parei no acostamento, conferi se o tanque estava cheio (poderia ter vazado gasolina sei lá), esperei um pouco, e ela ligou de novo. Mas alguns poucos quilômetros para a frente, a moto deu uma engasgada e parou. Parei no acostamento, esperei um pouco, e ela ligou de novo. Mas alguns poucos quilômetros para a frente, a moto deu uma engasgada e parou. Parei no acostamento, esperei um pouco, e ela não ligou mais.
Consegui acenar para um caminhão guincho que topou me levar pra uma oficina na Praia Grande, mas iria desviar o caminho dele então me cobrou R$150. Aí o mecânico deu uma mexidinha na torneira de combustível e ela voltou a funcionar. Nem me cobrou e ainda colocou o parafuso que faltava no afastador do alforje.
Mas alguns poucos quilômetros para a frente, a moto deu uma engasgada e parou. Parei no acostamento, esperei um pouco, e ela não ligou mais.
Abri o Google Maps, procurei uma oficina por perto, liguei, e o cara foi me guinchar. Passamos por 4 oficinas, mas ninguém quis mexer pq tem medo desse tipo de moto, sei lá. Aí o cara que me guinchou falou "Vamo parar num posto de gasolina e eu mesmo tento resolver". A tampa do tanque de gasolina tem uma valvulazinha pra entrar ar quando o motor chupa gasolina. E a hipótese dele era de que não estava entrando ar por ali e por isso a moto tava parando. E isso faz sentido pq o sintoma era exatamente como se tivesse acabado a gasolina (que eu infelizmente conheço muito bem huehuehe) e além disso, quando eu abri o tanque, fez um barulho de ar entrando, pq estava com pressão negativa. Ele cobrou R$200 de guincho e mais R$50 pra achar o problema.
Ou seja, gastei R$400 pra no fim eu mesmo resolver o problema com um lacrezinho de plástico. Mas pelo menos aprendi a lição, e a solução durou a viagem inteira.
Depois disso consegui seguir viagem tranquilamente, me emocionando a cada praia avistada do alto da Rio-Santos. Eu abria um sorrisão involuntário e ficava com os olhos marejados. Essa estrada é linda demais, bicho!
À noite chegando em Paraty eu fiz um pequeno teste. Numa linha reta da estrada, apaguei todas as luzes da moto. Não tinha nenhum outro veículo à vista, e estava uma noite nublada e sem Lua. É uma escuridão inacreditável. Vivendo em cidade a gente desacostuma com uma escuridão assim. Sempre tem uma luzinha de computador, de celular, de iluminação pública... Mas na estrada não tinha nada! Foi de arrepiar!
Eu cheguei à conclusão de que a BR-101 é uma selva: Linda, incrível e surpreendente de dia, e escura, assustadora e imprevisível à noite.
Ah, e quando eu estava quase chegando, percebi que a placa da moto tinha caído! Fingi que não vi e fiquei imaginando como fingir surpresa caso fosse parado pela polícia.
Cheguei no Maracujá Hostel umas 21h30 e fui recepcionado pela Peteca, uma viralatinha preta super fofa que mora lá.
Segundo dia - 31/08: Paraty (paramym??)
Acordei, tomei café da manhã, e fui ao Detran de Paraty pra ver se conseguia uma placa nova no mesmo dia. Mas o Detran é um órgão estadual, então eles não teriam como fazer nada. Aí liguei para o Detran de Ubatuba, que era pertinho, mas no estado de São Paulo. Ele disse que conseguiria resolver, mas demoraria 15 dias, então não adiantava nada. Então cheguei num ponto que aprendi com o Gusta há alguns anos, o ponto de "Não há o que fazer" e o que não tem remédio, remediado está.
Fui atrás de uma outra solução. Achei uma loja de departamentos e papelaria, onde comprei uma daquelas bandejas duras de self-service, uma serra, parafusos e uma caneta permanente, e fiz uma placa nova para seguir viagem. E eu consertei o portão de madeira deles em troca de poder deixar a serra lá e ter o valor ressarcido.
Aproveitei o resto do dia passeando pela cidade, tive um almoção daora num restaurante turco chamado Istanbul, fui no museu Forte Perpétuo Defensor, e no final do dia tomei uma cervejinha e uma cachaça junto com meu roomate do hostel.
Lá no museu tava rolando uma excursão de escola e eu aproveitei pra assistir clandestinamente a uma aula sobre a importância de Paraty, da Estrada Real, etc, e depois agradeci a professora, pq estava com saudade de ter uma aula de história.
Terceiro dia - 01/09: Paraty - Rio de Janeiro
Peguei a estrada com medo de ser parado, e em dois momentos tiveram carros de polícia que ficaram atrás de mim por uns 10 minutos e eu o tempo todo pensando "Fudeu, agora já era, com certeza vão ver a placa e me parar!" Mas não, só seguiram seus rumos. E chegando no Rio eu vi um monte de gente sem capacete, andando de moto na calçada, na contramão, ninguém tava nem aí, então fiquei mais tranquilo.
Quando estava chegando, peguei um túnel super longo que saía dando de cara com o Cristo Redentor, e foi impossível conter as lágrimas. Mesmo sendo ateu, é lindo demais aquele Jesusão abraçando a cidade inteira.
Estacionei na garagem do prédio da Milena e do Marcio, me acomodei no apartamento, e fui encontrar o Lamon e a Karol na praia de Copacabana pra gente ficar comendo belisquetes, tomando cerveja e bons drinks. Essa tarde que eu passei com eles está facilmente entre os meus top 10 momentos da vida.
À noite pegamos um uber e fomos para a Lapa pra continuar bebendo cerveja e tirar uma foto com o Sonic.
Quarto dia - 02/09: Rio de Janeiro (ele continua lindo)Acordei, comi um sanduba na padaria, vi um taxista batendo punheta, e chamei um uber pra ir até Copacabana encontrar Lamon e Karol. Mas eles estavam trabalhando (!!!) então eu saltei lá na pontinha da praia, e fui indo a pé até o hotel deles. No caminho tomei uma Corona e dois chopps, o que me deu coragem pra fazer o que tinha planejado.
Eu avisei que às 13h em ponto era pra eles aparecerem na varanda do quarto. Eles cumpriram e eu dei um gritasso a plenos pulmões: BUONGIORNO PRINCIPESSA!!!
Que foi respondido pelo Lamon com "Vai toma no cu ô vacilão! Sobe ae!"
Lá no quarto recebi minha camiseta do Iron Maiden, encontramos com a Marcela, e fomos almoçar já vestidos pro roque.
Enquanto almoçávamos tranquilamente, passou uma moto em cima da calçada bem na nossa frente. Mas fazia sentido, pq a rua era contramão, e ele não queria fazer uma barbeiragem né.
Voltamos pro apartamento, escovamos os dentes e fomos pegar o ônibus que nos levaria à Cidade do Rock, onde encontraríamos o Rafão e o Gi. Eles já tinham pego o ônibus e disseram q tava uma várzea do cacete, com os motoristas parando pra perguntar o caminho. E na nossa vez o ônibus saiu exatamente às 15h15, o que foi impressionante, mas demorou MAIS DE DUAS HORAS pra chegar até lá!! Pelo menos todo mundo conseguiu tirar um cochilo. E no meio disso em algum momento a Ana, uma outra web-amiga minha (q não era a do date) viu que eu ia passar por BH e me chamou pra ficar hospedado na casa dela.
Lá na Cidade do Roque, juntamos a rapaziada e enquanto esperávamos o show do Airomeidi ficamos passeando, tomando cerveja, dançando funk, comendo pizza e esperando na fila do banheiro e água. E eu e o Gi, ficamos tentando galinhar por aí. Mas sem sucesso. E no meio das andanças eu encontrei o Gaveta!
Depois dos shows, voltamos pra domir, derrotados, porém vitoriosos.
Quinto dia - 03/09: Rio de Janeiro - Juiz de Fora
Acordei no dia seguinte do show, fui comer um sanduba na mesma lanchonete, e fui atrás de um presentinho pros meus anfitriões. Comprei duas garrafas de vinho que pareciam ser show de bola.
O trecho entre Rio de Janeiro e Juiz de Fora foi o mais curto e rapidinho, o que foi uma decisão muito sábia, por ser logo depois do Roquenrio. O hostel era bem supimpa. A moça explicou que eles acabaram de abrir e ainda tem algumas melhorias pra fazer. Mas achei ótimo que os beliches são parafusados no teto!! Assim ninguém balança a cama do coleguinha quando vai deitar ou levantar!!
À tarde fui no shopping que tinha lá perto, comi um frango parmegiana. "Obrigada meu bem, boa refeição" foram as palavras ditas pela atendente com sotaque mineiro, e foi o suficiente pra eu me derreter todinho. Depois comi um sorvete, e gastei R$10 naquelas máquinas de catar bicho de pelúcia com uma garra (sem pegar nada obviamente). Mais à noite jantei um pedaço de torresmo e fui dormir.
Sexto dia - 04/09: Juiz de Fora - Belo Horizonte
Acordei, fui tomar um café da manhã na lanchonete ali do lado, peguei um café na cozinha e zarpei logo cedo. No caminho eu estava sem dinheiro pro pedágio, então passei em um com o combinado de pagar os dois no próximo. Aí parei num shopping pra almoçar e sacar dinheiro, mas o caixa eletrônico não estava operando com saque. Fiquei meio sem saber o que fazer e vi uma família ali no estacionamento. Expliquei a situação e perguntei se eles tinham como me dar dinheiro e eu já fazia o pix na hora, mas o cara me deu R$7 e disse que nem precisava fazer pix. O povo mineiro é hospitaleiro demais sô!
Chegando em BH, a Ana ainda não estava em casa, então fui procurar um lugar pra tomar um cafezinho mineiro. MAS NÃO ENCONTREI! Passei num buteco, numa padaria e numa sorveteria, e tive que me contentar com um trem que era uma bola de sorvete naufragada em um copo de chocolate quente.
Depois desse treco esquisito voltei pra casa da Ana, onde conheci ela, o marido Frederik e a filhinha deles. Tomei um belo banho, e passamos a tarde toda proseando na varanda comendo pão de queijo e tomando cafezinho. Mais à noite comemos uma pizza muito boa, e eu dormi numa cama improvisada com tapetes e cobertas e que estava muito confortável!
Sétimo dia - 05/09: Belo Horizonte (é realmente um belo horizonte)
Quando eu acordei a Ana tinha acabado de me mandar uma mensagem avisando que estava voltando do trabalho pq a chefe liberou pra cuidar da filhinha q estava dodóizinha. Ficamos novamente proseando e tomando café, mas na casa da mãe dela assistindo Mickey e Hilda.
À tarde fui passear de moto pela cidade pra ver se tinha algum museu ou parque aberto, mas por ser uma segunda-feira, estava tudo fechado. Então pesquisei barzinhos no Google Maps pra ver onde seria o meu date. Mas no fim não fomos em barzinho nenhum. Busquei a Botinha em casa e passamos uma noite agradável com vinho e cerveja.
Oitavo dia - 06/09: Belo Horizonte - Três Corações
Nesse trecho eu estava completamente exausto, então parei em um Graal, onde tomei um espresso duplo e dormi por uns 15 minutos em um banquinho. Depois consegui chegar em Três Corações, onde almocei no Subway. Depois voltei pro hotel e tirei uma soneca. Aí comi a outra metade do sanduba e dormi de novo.
Nono dia - 07/09: Três Corações - Casa
Acordei umas 7h da madrugada, fui tomar café da manhã e tinham dois caras assistindo uma live do bostornaro super alto no celular. Eu pedi pra pausar pq tava atrapalhando pra ouvir a TV de tubo q estava ligada, mas estava no mudo huehuehue. Comi super pouco, tomei um cafezinho, fiz checkout e vazei o mais rápido possível pq ia ter um desfile militar bosloranista.
Cheguei em casa umas 13h30, e minha mãe e a Cida estavam fazendo uma faxina e dando uma arrumação geral. Eu cheguei, sentei num banquinho do lado da porta, e fiquei uns 10 minutos prostrado. Contemplando esse rolê gigante que eu dei. Deu uma emoção estranha, chorei um pouco, e fui cagar e tomar um banhão.
Conclusões:
- Nunca mais sair de viagem sem revisão completa MESMO;
- Evitar estrada à noite, ainda mais se for uma estrada desconhecida, sem iluminação e quase sem sinalização;
- Não deixar coisas em bolsos desprotegidos para que o carregador de celular não caia na estrada por exemplo;
- O conselho do Félix me acompanhou em cada um dos quase 1800km rodados;
- Estilo é importante, mas segurança e praticidade são mais;
- O mais importante é a jornada e as companhias. Inclusive o fato de não ter companhia, pq se eu estivesse com garupa ou com outra moto passando todos os perrengues q eu passei, teria sido uma merda, muito mais estressante. Estando sozinho, eu fui e resolvi do meu jeito sem estresse;
-Por mais que o destino principal de tudo fosse o show do Iron Maiden, ele não ficou nem nos top 10 momentos da viagem toda. Seguem alguns dos melhores momentos:
- Descobrir qual era o problema da moto e resolver- Me emocionar a cada vez q via o mar na Rio-Santos
- Me emocionar vendo o Cristo Redentor
- Passar a tarde com Lamon e Karol tomando cerveja em Copacabana
- Encontrar o Rafão que é um cara super daora q eu não via há anos
- Encontrar o Gaveta, que é um cara q eu adoro e me inspira muito
- Passar muitas horas junto com esses migos zoando e dando risada
- Tomar uma corona geladinha com limão na frente do rio em Paraty
- Tomar uma corona geladinha com limão na frente da praia em Copacabana
- Conhecer pessoalmente a Ana e passar a tarde com ela e a família
- Conhecer pessoalmente a Botinha e passar a noite juntos
- Chegar em casa completamente exausto, mas com um sentimento maravilhoso de missão cumprida com sangue, suor e lágrimas
- Eu tenho amigos maravilhosos!