sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O Marketing das Lajotas Quebradas

Pode algo quebrado valer mais que a peça inteira? No Brasil isto aconteceu, talvez pela primeira vez na história. Na década de 1940 / 1950, a cidade de São Paulo era servida por duas indústrias de cerâmica principais. Um dos produtos dessas cerâmicas era um tipo de lajota cerâmica quadrada. Essas lajotas eram produzidas nas cores vermelha (a mais comum), amarela e preta. Era usada para piso de residências de classe média ou comércio.

No processo industrial da época, aconteciam muitas quebras e os cacos quebrados eram juntados e enterrados. Nessa época os lotes operários na Grande São Paulo tinham área para jardim e quintal, que eram acimentados porque os operários não tinham dinheiro pra comprar as lajotas.

Certo dia, um dos empregados de uma das fábricas estava terminando sua casa e não tinha dinheiro para comprar cimento. Ele pediu pra empresa pra usar alguns cacos na sua casa. A empresa topou na hora e ainda deu o transporte de graça pois com o uso do refugo deixava de gastar dinheiro com a disposição.

A maior parte recebida pelo empregado era de cacos vermelhos mas havia cacos amarelos e pretos também. O operário ao assentar os cacos de cerâmica colocou alguns cacos pretos e amarelos quebrando a monotonia do vermelho.


A história começa a mudar graças à boa e velha arte. A disposição dos cacos de cerâmica no chão formava um grande mosaico. Então os vizinhos gostaram e começaram a imitá-lo e logo jornais foram ver e mostrar à população de São Paulo a nova moda.

Como a procura começou a crescer, a diretoria comercial de uma das cerâmicas descobriu ali uma fonte de renda e passou a vender os cacos a cerca de 30% do preço da peça inteira.

A onda do caquinho de cerâmica cresceu e logo começou a faltar caquinho, que começou a ser tão valioso como a peça inteira. Na falta de caco as peças inteiras começaram a ser quebradas pela própria fábrica. E é claro que o caquinho subiu de preço e ficou mais caro que a peça inteira.

A história termina nos anos sessenta com o surgimento dos prédios em condomínio e a classe média que usava esse caquinho foi para esses prédios e a classe mais simples ou passou a ter lotes menores ou foram morar em favelas.

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