segunda-feira, 13 de abril de 2015

Elspeth Beard

1980. Uma época obscura em que não havia internet, celular e GPS. Eis que Elspeth Beard, uma moçoila inglesa de 24 anos resolve pegar a estrada de moto e viajar o mundo.

Com uma BMW R 60/6 Flat-Twin de 1974 já com 48.000 kms rodados viajou por vários países da América do Norte, Europa, Ásia, Oriente Médio e Oceania

Pra nós hoje isso parece "normal", já que várias pessoas viajam por aí sozinhas e temos todos os aparatos tecnológicos a nosso favor. Mas em 1980, uma mulher decidir cruzar de  moto os continentes da Terra era quase um atestado de insanidade - e suicídio.


A primeira etapa da viagem de Elspeth começou em New York/EUA, ela custeou o transporte aéreo dela e da sua moto saindo de Londres. De lá, rodou nos EUA, Canadá e México, voltando para a cidade de Los Angeles, onde enviou sua moto para Sydney na Austrália. Enquanto estava sendo realizado o trâmite de transporte da sua moto (naquela época era mais burocrático e demorado), resolveu esperar, conhecendo a pé a Nova Zelândia, andando por alguns dias.

Depois dos custos que teve para viajar até então e enviar a moto para Sydney, Elspeth ficou sem dinheiro. Ai, em Sydney procurou trabalho. Ficou sete meses trabalhando e vivendo numa garagem de uma casa de uma família que resolveu abrigá-la, fazendo projetos arquitetônicos para pessoas residentes próximas. Foi nesse período também que Elspeth resolveu construir as malas laterais e traseira da sua moto, feitas de alumínio, rebitados e cortados por ela mesma. Até então, ela estava viajando com malas de tecido que tinha providenciado na sua saída de Londres.

Após a chegada da moto, rodou pela Austrália e sofreu seu primeiro acidente, foi em uma estrada de terra perto de Townsville, em Queensland. A moto caiu e ela sofreu escoriações e outros ferimentos, mas não teve nenhum osso quebrado. O capacete da marca "Bell" a protegeu e ela o tem guardado de recordação até hoje, o qual mesmo depois do acidente, continuou sendo utilizado por toda a viagem (não tinha grana sobrando para trocá-lo).

Abalada, mas sempre destemida, ela passou duas semanas no hospital antes de retomar a viagem na estrada, até o norte e costa leste de OZ, em seguida pelo sertão de Ayers Rock e, finalmente, através da planície Nullabor na costa oeste. Lá ela colocou a BMW num barco com destino para Cingapura.

Em Cingapura/Indonésia, sofreu um grave problema, teve todos os seus documentos e pertences de valor roubados, como seu passaporte, documentos do registro de transporte da moto. Teve que voltar para a Inglaterra por onde permaneceu seis semanas resolvendo a questão das segundas vias dos documentos.


Resolvida a questão dos documentos, ela buscou sua moto na Tailândia, prosseguiu até a península da Malásia, pasando também por Bangkok, indo até Chiang Mai no mesmo país (Tailândia), seguindo pelo conhecido Triângulo Dourado na rota terrestre para a Índia.

Foi quando sofreu novo acidente, quando atropelou um cachorro que apareceu correndo saindo próximo de um caminhão, fazendo com que com o seu desvio batesse com a moto numa árvore, isso ocorreu ainda na Tailândia, foi abrigada por uma família pobre de uma pequena cidade, que não falavam uma palavra de inglês e ela nada de tailandês, a comunicação foi por sinais.

A família tailandesa ficou encantada com as histórias que a Elspeth contava sobre sua viagem, conviveram juntos por duas semanas, até que Elspeth se recuperasse do seu acidente, dando comida e hospedagem para ela. Elspeth só ficou chocada quando descobriu que a carne que havia comido na casa era do cachorro que ela havia matado no acidente. Elspeth teve também que arrumar peças do motor da moto que danificou. Depois da experiência com a família rodou adentrando na Índia.

Elspeth já estava viajando havia mais de dois anos desde sua partida. Foi quando seus pais resolveram visitá-la na Índia, na cidade de Katmandu. Eles ficaram chocados com a magreza dela. Nessa cidade Elspeth conheceu um holandês que também estava viajando de moto, e juntos rodaram de volta até a Europa, mas antes conheceram o Himalaia. Ambos passaram por uma experiência ruim na viagem, na fronteira da Índia com o Paquistão, ocorreu o assassinato do primeiro ministro indiano, fazendo com que a fronteira ficasse dominada por policiais e guardas do governo indiano, dificultando todos os trâmites de saída do país.


A situação ficou caótica e vários ocidentais que estavam na Índia entraram em desespero. Elspeth e o novo amigo holandês simplesmente não conseguiam permissão para sair da Índia, foi quando Elspeth resolveu por conta própria forjar um documento como se fosse do governo indiano autorizando sua saída do país.Ela não estava bem de saúde e sua moto estava com o freio traseiro defeituoso, devido a um vazamento de óleo, além da embreagem da moto que havia parado de funcionar.

Conseguiram atravessar a fronteira para o Paquistão, cruzando o país em direção ao Irã e de lá para a Turquia. No Irã o visto de permissão para ficarem no país foi de poucos dias, assim, logo chegaram na Turquia, faltando poucas horas para o vencimento dos seus vistos.

Elspeth passou algum tempo na Turquia oriental recuperando sua força e reparando sua moto. Quando ela deixou a Inglaterra, era uma mulher jovem, alta, saudável e pesando 65kg. Agora estava pesando apenas 41 quilos.

Pra quem já tinha feito todo o caminho que ela fez por países politicamente complicados e com muitos problemas sociais, partir da Turquia para cruzar a Grécia e parte da Europa continental rumo ao Reino Unido era simples, ela estava se sentindo em casa. O único desafio, seria atravessar uma rodovia na Iugoslávia, conhecida como "rodovia da morte", uma estrada de apenas uma pista de cada lado, com muitos caminhões, os quais toda hora ultrapassam um ao outro. Tal estrada tem centenas de cruzes e flores em ambos os lados para lembrar dos mortos em acidentes nos locais.

Mas tudo bem, Elspeth rodou com sua moto até a sua cidade de Londres na Inglaterra, findando a sua viagem.  A moto que Elspeth usou para essa viagem existe e é dela até hoje. Ela já teve várias outras motos da BMW, por alguns anos rodou uma GS 1100 R, depois com uma R 80 GS e também uma R 1200 GS.

Já fez várias outras grandes viagens, mas nenhuma como a primeira. É sempre assim, todas as viagens de motocicletas, são únicas, diferentes e especiais. Numa das viagens de Elspeth, ela foi acompanhada com um famoso moto aventureiro europeu, Nick Sanders, de Londres para Marrocos, ida e volta.

Depois que Elspeth terminou sua grande viagem, que durou de 1980 a 1983, ela completou seus estudos de arquitetura e passou sete anos transformando uma torre de água abandonada que adquiriu, em sua casa vitoriana que ficou maravilhosa. Trabalha em tempo integral em Londres e criou sozinha seu filho. Hoje ela é uma arquiteta premiada e reconhecida em toda a Europa.


Loucos são aqueles que acham que esse tipo de sonho é loucura.


Fonte: RockRiders.com.br

Um comentário:

  1. Que história incrível e que mulher de garra!!!
    Como ainda não fizeram um filme da história dessa mulher???

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