Foi em 1972, eu tinha acabado de voltar do Vietnã... Eu tinha sido enviado a serviço da Legião Estrangeira.
Foram tempos difíceis. Eu perdi muitos amigos. E a família que eu já quase não tinha se afastou de mim. Mas eu até entendo eles. Ninguém quer ter um membro da família que matou dezenas de pessoas.
Eu não tinha nada a perder quando decidi roubar aquele carro. Um Cadillac verde perolado rabo de peixe. Carrão da porra... O que eu não esperava era que o dono do Cadillac era um general que havia lutado ao meu lado. Aliás, que havia me deixado pra trás quando os vietcongues nos encurralaram.
Quando ele saiu do carro, aproveitei pra arrombar a porta. Mas ele logo voltou pra pegar alguma coisa e me pegou no flagra. Quando vi ele correndo na minha direção, acabei direcionando pra ele anos de sofrimento e frustração. Mais precisamente com um soco que o jogou pra trás inconsciente.
Estava terminando de arrombar a porta e o filho da puta chegou. Quando vi ele correndo na minha direção, acabei devolvendo alguns presentes da guerra: Anos de sofrimento e frustração. Um belo de um soco na cara do desgraçado que o jogou pra trás inconsciente. Peguei a chave do bolso dele, liguei o carro e saí. Só saí em direção ao por do sol. Quem não tem nada a perder não tem caminhos a escolher.
Encontrei uma arma carregada no porta luvas, acompanhada de dois pentes completos, que usei para assaltar bancos e me livrar de alguns policiais.
Depois de quase dois anos nessa brincadeira, fui emboscado numa divisa de estados, enquanto parava pra tomar um café e me mandaram para uma prisão de segurança máxima. Meu companheiro de cela era um cara meio caladão e eu nunca soube o nome dele. Foi o melhor amigo que eu já tive.
Um dia os presos começaram a armar uma rebelião. Foi quando eu comecei a pensar em como escapar. O chefe da rebelião era um palhaço que chamavam de Canivete. No dia da tal rebelião eu fui acordado pelo jato da mangueira de bombeiros que eles estava usando para conter os presos.
Enquanto eles eram espremidos pro canto do pátio, um policial de merda veio me pegar. Desarmado, só com um cacetete. Coitado.
Olhei em volta. Reparei em todo aquele cenário. Por um minuto, uma sensação quase nostálgica me pegou e quase me senti "em casa". Na hora pensei: Já saí vivo de tanta coisa pior, isso aqui vai ser fichinha. Troquei de roupa com o policial que deixei caído no chão e esperei a hora certa... Eles são idiotas, mas nem tanto. Na primeira bomba de fumaça aproveitei. Mas aproveitei com classe: Fingi que estava ferido e saí pelo portão da frente. Escoltado. Retiro o que disse sobre eles não serem tão idiotas. Logo fui encaminhado para o médico, que quando percebeu meu disfarce, já estava caído no chão com 3 dentes a menos antes que pudesse gritar para alguém ajudá-lo, o que me deu alguns segundos para correr.
Eu corri até chegar na recepção, onde dois policiais esperavam por mim apontando armas. Eu parei, olhei para o lado e vi uma porta aberta que dava para uma área administrativa, com um balcão e uma janela logo atrás. Entrei correndo nessa sala, peguei um extintor de incêndio e o joguei para quebrar a janela. Me joguei logo adepois e caí em cima de uma viatura que estava estacionada do lado de fora. Saí correndo como nunca achei que fosse capaz. Antes que os policiais conseguissem se organizar pra me perseguir, eu já tinha roubado um carro na rua e corrido até a cidade. No carro peguei um casaco pra disfarçar minha roupa roubada de policial. E com o dinheiro do antigo dono do carro comprei roupas novas num brechó e aparei a barba e o cabelo.
Passei a viver como fora da lei. Sempre fugindo, indo para novos lugares e novas mulheres. Algumas dizem se apaixonar pela minha liberdade. Eu digo não saber o que é liberdade. Até que cheguei a São Paulo, uma cidade muito grande e com uma polícia que tem mais o que fazer além de procurar um assassino e ladrão como eu. E cá estou, livre como um pássaro, e com lembranças que me atormentarão para sempre.
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