sábado, 8 de fevereiro de 2014

A Piada Mortal

O Coringa é, sem dúvida, um dos maiores vilões da ficção, se não o maior. Como disse meu amigo do futebol, Tio Rica: "Ele não quer dinheiro, ele não quer fama, não quer dominar o mundo. Ele só quer fuder."


Ele é tão mau que já matou uma pessoa na vida real. Heath Ledger, o ator que o interpretou com maestria em "Batman - O Cavaleiro das Trevas".

Poucos sabem qual é a sua origem, que é contada na HQ "A Piada Mortal" (The Killing Joke) lançada em 1988.


Em Batman: o Cavaleiro das Trevas, Frank Miller mostrou o paradoxo entre o Homem Morcego e o Homem de Aço. Batman representa as trevas; Super-Homem, a luz. No entanto, os dois se dedicam a combater o crime. No caso do Super-Homem, isso é quase como uma pré-destinação. Dotado de imensos poderes e criado com carinho e dedicação. Já a "vocação" do jovem Bruce Wayne aflorou quando ele presenciou o assassinato de seus pais. Bastou um dia ruim para que a vida de Wayne mudasse para sempre.

Um dia ruim. Para o Coringa, isso é tudo o que é necessário para transformar a vida de uma pessoa. Basta uma tragédia para que uma pessoa prefira o conforto da loucura ao tormento das lembranças daquele dia. E é disso, essencialmente, que se trata a aclamada "Batman: a Piada Mortal", escrita por Alan Moore e ilustrada por Brian Bolland (que criou talvez a mais icônica imagem do Coringa), com cores de John Higgins.

Até então, o Coringa era um homem sem passado. Nada se sabia da vida do Palhaço do Crime antes dele aparecer em Gotham City cometendo suas atrocidades e atormentando a vida de Batman. A obra de Alan Moore trata não só de criar uma origem, e conseqüentemente, uma profundidade maior ao personagem, como de aproximá-lo do leitor. Nesta história, o Coringa deixa de ser o vilão maniqueísta que até então fora, para se tornar um personagem mais humanizado, de forma que quase dá pra entender o porquê dele ser quem é e fazer o que faz.


Em "A Piada Mortal" Batman vai ao Asilo Arkham, para visitar o Coringa, tentar conversar com o Palhaço do Crime e colocar um ponto final na longa história de ódio que existe entre esses dois homens. No entanto, o Coringa havia fugido do Arkham. Quando descobre o ocorrido, Batman sai atrás do vilão.

Enquanto isso, o Coringa já está colocando seu plano em ação. Ele quer mostrar ao Batman que até mesmo a mais sã das pessoas pode enlouquecer. Para isso, faz uma visita ao comissário Gordon. Assim que chegam, a filha de Gordon toma um tiro que a deixa paralítica. E o comissário é espancado até ficar desacordado e é então levado a um parque de diversões abandonado.

Nesse parque, o Corgina tortura o comissário psicologicamente, mostrando-o as fotos de Bárbara nua e possivelmente sofrendo abusos (mas isso não fica claro na história). Seu objetivo é enlouquecê-lo, provando a todos, especialmente ao Batman, que, nas palavras do próprio Coringa, "Só é preciso um dia ruim para reduzir o mais são dos homens a um lunático".


E que é apenas isso que separa o vilão de todas as pessoas. Todas menos Batman. Afinal, segundo o criminoso, foi exatamente isso que fez com que Batman decidisse vestir a fantasia de um morcego e sair combatendo o crime nas ruas. Coisa que corresponde a mais pura verdade.

Paralelamente a essa trama, vemos o "dia ruim" do Coringa. Ex-funcionário de uma fábrica química e comediante frustrado, que decide cometer um crime para poder dar uma vida mais digna à sua esposa grávida e seu futuro filho.

As coisas começam a dar errado quando, no dia planejado para o assalto, sua esposa morre em um acidente doméstico. Na hora da ação, no entanto, os planos do bando são frustrados pelos seguranças da empresa e por Batman. Os criminosos são baleados e o futuro Coringa acaba entrando em pânico ante a presença de Batman e pula em um tonel de produtos químicos. Sai de lá com a pele branca, os cabelos verdes, lábios vermelhos e completamente enlouquecido.


A piada mortal é uma história que quebra diversos paradigmas dos quadrinhos. Antigamente, a relação herói-vilão era simplista. O herói é a representação do Bem e, o vilão, a do Mal. Com o passar do tempo, especialmente depois da revolução proposta por Stan Lee, Jack Kirby e companhia na década de 60, essa relação mudou um pouco. O maniqueísmo e a relação Bem x Mal ainda estão lá, mas o herói deixa de ser um ser perfeito e passa a apresentar problemas e conflitos internos comuns a qualquer pessoa. O vilão, por sua vez, torna-se um ser um tanto quanto mais complexo, apesar de sua importância ainda se manter inferior à do herói. Mas ainda é ele, o vilão, que extrai do herói o que ele tem de melhor e faz com que ele supere seus limites no intuito de subjugar seu antagonista.

Em A piada mortal, Moore explora a psicologia de Batman, Coringa e do comissário Gordon. Todas as tramas paralelas apresentadas no gibi acabam tendo Gordon como seu referencial e é o comissário que concentra a maioria das perguntas que surgem após a leitura da revista. Afinal de contas, se basta um "dia ruim" para levar a sanidade de uma pessoa, porque o mesmo não aconteceu com Gordon? Porque é que Wayne se transformou no Batman, o ex-comediante no Coringa e o comissário escapou ileso? Qual é essa força interna que fez com que Gordon resistisse tão bem ao seu "dia ruim" e que faltou a Wayne e ao Coringa?

Alan Moore também brinda seus leitores com um raro momento de sanidade do Coringa, onde ele praticamente admite que é covarde demais para tentar superar sua condição e que prefere a segurança da loucura ao tormento que aquelas recordações lhe trariam. Mais raro ainda é ver Batman não rindo, mas gargalhando de uma piada contada pelo Palhaço do Crime já no fim da história.


É preciso ressaltar, ainda, a qualidade não só da trama quanto do roteiro de Moore. As passagens que mostram as recordações do Coringa são extremamente bem feitas e mesclam passado e presente de maneira brilhante. A utilização das cores de John Higgins para criar atmosferas climáticas e ressaltar não só essas transições como também as seqüências mais calmas ou violentas são outro ponto positivo da obra.

É uma história indispensável para qualquer um que seja não só fã do Batman, mas de quadrinhos de heróis em geral.

Fonte:
Omelete

Se você quiser ler, eu encontrei esse link enquanto pesquisava

Um comentário:

  1. Vale ressaltar a teoria do autor Grant Morrison, que disse que o final da Piada Mortal o Batman MATA o Coringa. Por isso que os últimos quadros a risada dos dois para abruptamente e o feixe de luz se apaga, pq a piada final do Coringa, dos dois loucos que pulam do telhado pra fugir do hospício, um dos loucos fala: "Eu vou acender essa lanterna e fazer uma ponte de luz, que vc pode atravessar" e o outro responde "Você é louco?!? E se você apagar a lanterna enquanto eu estiver no meio do caminho?"

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