terça-feira, 20 de outubro de 2015

Quem Foi e o que Fez: Maria Quitéria

Esse ano no meu trabalho, nós estamos fazendo um programa chamado Retrovisor, cuja sinopse é: "Neste olhar sobre o passado que mistura história, ficção e jornalismo, grandes figuras históricas ganham voz com atores consagrados"

São entrevistas com personagens históricos brasileiros, interpretados por atores e participando de uma entrevista guiada pelo jornalista Paulo Markun.


Vários dos personagens apresentados são familiares, que a gente lembra alguma coisa deles que viu na época da escola. Mas vários deles eram completamente desconhecidos para mim, como Nísia Floresta, Chico da Matilde, Edgard Leuenroth, entre outros.

Assim como eu já criei as séries contos, esse programa me deu a ideia de criar essa série, "Quem foi e o que fez", pra falar sobre esses personagens não tão conhecidos da nossa história.

Nesta primeira edição vou falar sobre Maria Quitéria.

Maria Quitéria


Maria Quitéria nasceu em 1792 em um pequeno sítio na Bahia, onde hoje é a cidade de Feira de Santana. Era filha de portugueses nascidos na colônia.

Em 1803, tendo cerca de dez ou onze anos de idade, perdeu a mãe. Logo o pai casou-se novamente, mas a nova esposa também morreu. A família mudou-se então para a fazenda Serra da Agulha.

Na nova residência, seu pai, Gonçalo Alves casou-se pela terceira vez, com Maria Rosa de Brito, com quem teve mais três filhos. A nova madrasta nunca concordou com os modos independentes de Maria Quitéria, que adorava brincar sozinha pelas matas perto da casa, além de ter aprendido a montar cavalos, caçar e usar armas de fogo.

Maria Quitéria encontrava-se noiva quando, entre 1821 e 1822, iniciaram-se na Província da Bahia as agitações contra o domínio de Portugal. Em 25 de junho de 1822, a Câmara Municipal da vila de Cachoeira, a favor da independência, aclamou o príncipe-regente D. Pedro como "Regente Perpétuo" do Brasil. Descontentes com essa declaração, um grupo de militares portugueses abriram fogo contra a vila de Cachoeira.

No dia 6 de setembro, foi criado na vila o Conselho Interino do Governo da Província, que lutava pela independência da Bahia. Eles enviavam emissários a toda a Província em busca de adesões, recursos e voluntários para formação de um "Exército Libertador".

O "Soldado Medeiros"

Quando chegaram ao sítio de Gonçalo, já velho, ele disse que não poderia ajudar, pois não tinha filhos homens. Porém, para sua surpresa, Maria Quitéria se apresentou como voluntária. Mas o pai a proibiu de ir.

Alguns dias depois, quando o pai, que era comerciante, ia para a cidade, Maria Quitéria saiu escondida e o seguiu pela estrada. A uma distância segura para que ele não a visse, mas que ele a ouvisse caso precisasse de ajuda (afinal, nos anos 1820 não era aconselhável uma mulher andar sozinha na estrada.

Chegando na cidade, foi à casa de sua meia-irmã, Teresa Maria, que era casada com José Cordeiro de Medeiros, onde cortou os cabelos, vestiu-se de homem e alistou-se no "Batalhão dos Voluntários do Príncipe" (popularmente apelidado de "Batalhão dos Periquitos", devido aos punhos e gola verdes de seu uniforme) no Regimento de Artilharia, sob o nome de Medeiros (nome do marido de sua irmã estampado na farda).


Duas semanas depois, seu pai descobriu e foi buscá-la, mas o comandante do Batalhão, Major José Antônio da Silva Castro (avô do poeta Castro Alves) a defendeu e disse que ela era uma atiradora exímia, essencial para as tropas. E, ao saber que era uma mulher, deram um saiote escocês para que ela se diferenciasse dos demais soldados.

Em 29 de outubro seguiu com o seu Batalhão para participar da defesa da ilha de Maré e, logo depois, para Conceição, Pituba e Itapoã, integrando a Primeira Divisão de Direita. Em fevereiro de 1823, participou com bravura do combate da Pituba, quando atacou uma trincheira inimiga, onde fez vários prisioneiros portugueses, escoltando-os, sozinha, ao acampamento.

Em 31 de março, no posto de Cadete, recebeu, por ordem do Conselho Interino da Província, uma espada e seus acessórios.

Finalmente, em 2 de julho de 1823, quando o "Exército Libertador" entrou em triunfo na cidade do Salvador, Maria Quitéria foi saudada e homenageada pela população em festa. O governo da Província dera-lhe o direito de portar espada. Na condição de Cadete, envergava uniforme de cor azul, com um saiote feito por ela mesma, além de capacete com penacho.

O General Pedro Labatut, enviado por D. Pedro I para o comando geral da resistência, conferiu-lhe as honras de 1º Cadete. E no dia 20 de agosto foi recebida no Rio de Janeiro pelo próprio Imperador, que a condecorou com a Imperial Ordem do Cruzeiro, no grau de Cavaleiro, com seguinte pronunciamento:

"Querendo conceder a D. Maria Quitéria de Jesus o distintivo que assinala os Serviços Militares que com denodo raro, entre as mais do seu sexo, prestara à Causa da Independência deste Império, na porfiosa restauração da Capital da Bahia, hei de permitir-lhe o uso da insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro".


Além da comenda, foi promovida a Alferes de Linha, posto em que se reformou, tendo aproveitado a ocasião para pedir ao Imperador uma carta solicitando ao pai que a perdoasse por sua desobediência.

Perdoada pelo pai, Maria Quitéria casou-se com o lavrador Gabriel Pereira de Brito, o antigo namorado, com quem teve uma filha, Luísa Maria da Conceição.

Viúva, mudou-se para o antigo sítio em Feira de Santana em 1835. Depois, devido à demora da Justiça, mudou-se com a filha para o Salvador, onde veio a falecer aos 61 anos de idade. E foi sepultada na Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento e Sant'Ana, no bairro de Nazaré em Salvador.

No programa Retrovisor, a atriz Clarissa Kiste disse que, em sua opinião, quando Maria Quitéria lutava pela independência do Brasil ao lado do Batalhão dos Voluntários do Príncipe, ela, na verdade, lutava pela própria independência. Como se a luta pela independência do Brasil fosse um pretexto pra ela lutar pela própria independência, como mulher.


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